Pedra Branca

Ali estava ela, abraçando os joelhos, no centenário portal. 
Vestia o presente,
um vestido de chita, 
bebia a visão da tão antiga grande pedra envolta em brumas, 
como sempre a viu. 
Diziam-na branca, Pedra Branca. 
Nunca a tinha visto branca, 
embora lembrava-se de ter tocado o céu 
quando pisava no branco dela. 
Não sabe-se por qual mágica, 
as brumas se abriram e a luz do Sol tocou a pedra. 
Ela soltou os joelhos e abriu bem os olhos, 
a pedra era branca pela primeira vez 
neste corte da eternidade em que vivia. 
Tal qual o prisma que era tecido ao seu lado 
a luz dividiu-se e entrou pelos olhos dela, 
clareando todo seu interior para que ela pudesse sonhar de olhos abertos, 
sendo luz com a pedra e o sol. 
Sonhou então que as brumas, 
charme que o mistério faz
para revelar a luz, 
abriu-se e a pedra ficou branca por um dia todo. 
Neste dia, muitas flautas soavam, 
muitas cores dançavam, véus de muitas cores caiam
e ventos convidavam a todos a ser, estar, sentir e expressar.
Malabaristas, palhaços, pintores, atabaques, cores e cores 
diziam em harmoniosa uníssona voz: 
Véus, véus das brumas dos olhos do povo humilde, caiam...
Vejam as cores, não as dores...
Parem de andar tristes, preocupados, 
tudo é tão fugaz...
Sonhou rápido como são os sonhos acordados, 
devem ser disfarçados. 
Chamou a tecedora de filtros dos sonhos, a dona do prisma
 e lhe disse ainda assombrada: 
"Vem cá vê, a Pedra tá Branca! 
É a primeira vez que vejo Pedra Branca!"



 (Para Pamela Souza, a tecedora e a César Lemos, pelos sonhos que temos)

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